Pages

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O que é ser missionário católico?

"Eu devo anunciar a Boa Nova do reino de Deus" (Lc 4,46).

"Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; é, antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho".(1Cor 9,16-17)

Às vezes se confunde missão católica com serviço social e promoção humana. Numa homilia de domingo escutei um missionário dizer que trabalha com os índios, mas que “não está ali para cristianizar e dogmatizar ninguém”; achei um pouco estranho. Ora, evangelizar é levar a salvação de Jesus Cristo e as verdades (= dogmas da fé). Fiquei escutando o resto da homilia e percebi que o trabalho do missionário não se diferenciava das ONGs que estão entre os índios, ou talvez fosse apenas como o trabalho da FUNAI ou até mesmo o serviço do Exército no meio deles; um preocupação de levar o “bem estar social” aos índios: defesa, vacinas, preservação da cultura indígena, etc. Não ouvi falar de conversão e de abraçar a fé católica. Se não é para cristianizar os índios, então, não é verdadeira evangelização católica. O papel missionário da Igreja é levar a salvação de Jesus Cristo, como fizeram São Pedro, São Paulo e os demais Apóstolos, sem esquecer a caridade é claro, que sempre fizeram e fomentaram. Mas se faltar a cristianização e a dogmatização cristã, não é verdadeira evangelização; é mera assistência social. Isso muitas instituições podem fazer, mas levar Jesus Cristo, o Batismo da salvação, a Confissão, a Eucaristia, o Matrimônio, etc... só a Igreja é capaz de fazer. Paulo VI disse na “Evangelli Nuntiandi” que não há verdadeira evangelização se não se falar do nome de Jesus, de seus milagres, de sua doutrina, de sua paixão, morte e ressurreição redentoras da humanidade. Parece que há um medo de se falar de cristianismo, catolicismo, Igreja católica, dogmas, com receio de ferir a “liberdade’ das pessoas; ora, disse o Papa Bento XVI que “os dogmas não são cadeias, mas janelas abertas para o infinito”. Há uma tendência perigosa e falsa da parte de alguns missionários (penso que fruto da teologia da libertação) de levar apenas aos que não conhecem a Cristo, a promoção social e o bem estar, descurando da salvação da alma, e do combate ao pecado. Ora, as últimas palavras de Jesus à Igreja foram: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16, 15-16 ). “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi”(Mt 28.19-20). A evangelização é para isso, senão não é missão católica evangelizadora. Nota-se que há um esvaziamento da verdadeira missão católica, como o Vaticano alertou em 03/12/2007 pela “Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé”, na importante “Nota Doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização”, chamando a atenção para os desvios. Negar toda a verdade salvífica do Evangelho aos povos não cristãos, trocando isso por promoção social, é traição do missionário a Cristo. Hoje, como mostra a Nota da Santa Sé, há um perigo enorme de se querer deixar os nativos viverem “sua própria vida religiosa”, eivada de erros, maus costumes e superstições; ao invés de pregar-lhes a conversão a Jesus Cristo. O documento da Congregação da Fé diz: «Com efeito, os Apóstolos, “movidos pelo Espírito, convidavam todos a mudar de vida, a converter-se e a receber o Batismo” [Redemptoris Missio, 47], porque a «Igreja peregrinante é necessária à salvação»[Catecismo §846]”. “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tim 2, 4); e “a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade“ (1Tm 3,15)10. Continua a Nota do Vaticano: “Hoje, todavia, o anúncio missionário da Igreja é «posto em causa por teorias de índole relativista, que pretendem justificar o pluralismo religioso, não apenas de fato, mas também de iure (ou de princípio)» [Dominus Iesus, 4]. Há muito que se criou uma situação na qual, para muitos fiéis, não é clara a mesma razão de ser da evangelização [EN, 80]. Afirma-se mesmo que a pretensão de ter recebido em dom a plenitude da Revelação de Deus esconde uma atitude de intolerância e um perigo para a paz”. São fundamentais essas palavras de Paulo VI, mostrado esse perigo: “É assim que se ouve dizer, demasiado frequentemente, sob diversas formas: impor uma verdade, ainda que seja a verdade do Evangelho, impor um caminho, ainda que seja o da salvação, não pode ser senão uma violência à liberdade religiosa. De resto, acrescenta-se ainda: Para que anunciar o Evangelho, uma vez que toda a gente é salva pela retidão do coração?... Não será, pois, uma ilusão o pretender levar o Evangelho aonde ele já se encontra, nestas sementes que o próprio Senhor aí lançou? É claro que seria certamente um erro impor qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos. Mas propor a essa consciência a verdade evangélica e a salvação em Jesus Cristo, com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que essa consciência fará, e isso, sem pressões coercitivas, sem persuasões desonestas e sem aliciá-la com estímulos menos retos, longe de ser um atentado à liberdade religiosa, é uma homenagem a essa liberdade, à qual é proporcionado o escolher uma via que mesmo os não-crentes reputam nobre e exaltante. Será então um crime contra a liberdade de outrem o proclamar com alegria uma Boa Nova que se recebeu primeiro, pela misericórdia do Senhor? Ou por que, então, só a mentira e o erro, a degradação e a pornografia, teriam o direito de serem propostos e com insistência, infelizmente, pela propaganda destrutiva dos "mass media", pela tolerância das legislações e pelo acanhamento dos bons e pelo atrevimento dos maus? Esta maneira respeitosa de propor Cristo e o seu reino, mais do que um direito, é um dever do evangelizador. E é também um direito dos homens seus irmãos o receber dele o anúncio da Boa Nova da salvação.” (EM,80). Paulo VI disse ainda que: “numerosos cristãos... têm frequentemente a tentação de reduzir a sua missão às dimensões de um projeto simplesmente temporal; os seus objetivos a uma visão antropocêntrica; a salvação, de que ela é mensageira e sacramento, a um bem-estar material; a sua atividade, a iniciativas de ordem política ou social esquecendo todas as preocupações espirituais e religiosas. No entanto, se fosse assim, a Igreja perderia o seu significado próprio. A sua mensagem de libertação já não teria originalidade alguma e ficaria prestes a ser monopolizada e manipulada por sistemas ideológicos e por partidos políticos. Ela já não teria autoridade para anunciar a libertação, como sendo da parte de Deus. Foi por tudo isso que nós quisemos acentuar bem na mesma alocução, quando da abertura da terceira Assembléia Geral do Sínodo, "a necessidade de ser reafirmada claramente a finalidade especificamente religiosa da evangelização. Esta última perderia a sua razão de ser se apartasse do eixo religioso que a rege: o reino de Deus, antes de toda e qualquer outra coisa, no seu sentido plenamente teológico".(62) Paulo VI ensinou em que consiste a Evangelização:Como núcleo e centro da sua Boa Nova, Cristo anuncia a salvação, esse grande dom de Deus que é libertação de tudo aquilo que oprime o homem, e que é libertação sobretudo do pecado e do maligno, na alegria de conhecer a Deus e de ser por ele conhecido, de o ver e de se entregar a ele” (EN, 9).

Autor: Prof. Felipe Aquino

Nenhum comentário:

Postar um comentário