Eles são muitos, mas quando vistos juntos parecem muito mais. Dom sobrenatural de se multiplicarem em proporções múltiplas, como se um emprestasse ao outro uma fraternidade tão fecunda que chegasse a gerar uma terceira pessoa, do encontro entre dois. Eles são toqueiros. Homens e mulheres tocados pelo olhar de Jesus e pelo imperativo ético que nem sempre gostamos de ouvir: Amem os pobres! Eles estão por todos os cantos do Brasil. Cobertos por uma vestimenta bonita, um desconserto concretizado em algodão cru, tingido em cores que nos lembram que é momento de deitar os joelhos no chão para que possamos ficar na altura dos miseráveis do mundo. Vestes que se diferenciam à distância, no meio de uma multidão cheia de brilhos artificiais, esmaltes, batons e cores abundantes. Vestes que emolduram almas que sorriem à sua maneira, que são felizes nos subterrâneos do mundo, lá onde a Eucaristia ainda preserva o sabor do sacrifício, e é celebrada entre joelhos esfolados, rostos marcados pela vida dura e pelo abandono. Eles são meninos e meninas que aprendi a amar. Aonde vou gosto de dizer que são um dos sinais proféticos mais eloqüentes que a Igreja dos nossos tempos viu nascer. Eles ainda preservam na alma uma pureza que está diretamente ligada ao contexto de Jesus e sua primeira comunidade. Coisa de quem não estudou muita teologia, senão aquela que a oração ensina, e que a fé comprova na prática. Não, eles não são mestres em muitas ciências. Nem precisam ser. O carisma que os move vem de um homem raro, que na observância de um outro homem raro, fez ponte entre Assis e o mundo. A ponte é longa, bonita e cheia de simplicidade. Estes meninos e meninas de riso fácil e de ternura intensa são os elos que sustentam este instrumento de travessia. Gente humana, gente que sofre saudade de pai, de mãe, de cama quente, presente de natal, mas que resolveu dominar esta saudade com o único objetivo de dar ao mundo o coração de Deus, por meio de seus gestos simples. Gente que troca de nome. Resgate de uma tradição religiosa que nos lembra que depois do encontro com Jesus nós nos transformamos em outros. Mística que faz falta, que foi esquecida na expressão de um cristianismo de formalidades e obrigações. Eles são os filhos de Roberto, eles são os filhos de Assis. Franciscos, Claras, Bernardos, Arimatéias, pessoas que procuram pelas ruas do Brasil aqueles que não gostamos de encontrar. Gente dos bastidores, da adoração que não causa alarde, da vela acesa, da solidão acompanhada. Gente que eu admiro e gostaria de ser igual, mas não consigo. São almas peregrinas, destinadas a amar as tristezas do mundo e sobre elas estenderem a toalha do santo sacrifício do altar. Almas do Eterno enamoradas. Frutificações generosas que rompem os asfaltos das nossas sociedades pagãs. Aprendi ao longo da minha vida que a simplicidade é a expressão mais aprimorada da beleza. Por isso eu digo sem medo de errar, isso é uma tradução fiel da beleza de Deus no mundo. Vestidos de algodão cru, sorridentes, adoradores, pés descalços, tonsuras nas cabeças e corações prostrados diante do Altíssimo. Saibam que em cada irmão recolhido e cuidado, Deus proclama mais uma vitória do amor. Em cada ferida curada o mundo inteiro está sendo curado também. Quero sempre poder abraçá-los. Quero sempre poder encontrá-los. Quem sabe assim, um pouco deste hábito venha morar dentro de mim.
Autor: Pe. Fábio de Melo
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