Um milhão de pessoas assistiu ontem à beatificação do Papa polonês.
Todos os caminhos foram dar a Roma, ontem. Menos o de Ali Agca, o turco que há 30 anos tentou matar João Paulo II. "Queria participar na cerimónia na Praça de São Pedro, mas o governo italiano não me autorizou. Eu, Ali Agca, proclamo João Paulo II a melhor pessoa do século passado. Espero poder visitar o seu túmulo e o santuário de Fátima", dizia ontem, desolado, à agência Ansa.
De manhã bem cedo, ainda a celebração não tinha começado, mais de 200 mil pessoas já estavam em vigília e oração na Praça de São Pedro - decorada com fotografias de João Paulo II e 27 bandeiras representativas dos 27 anos de pontificado do Papa polaco. O caixão de Karol Wojtyla também já estava a postos desde sexta-feira, em frente ao altar principal da basílica. E lá continuará até hoje, quando será sepultado na capela de São Sebastião - no mesmo edifício e mesmo ao lado da famosa "Pietà" de Miguel Ângelo.
Mais de um milhão de pessoas terão assistido ontem, no Vaticano, à beatificação de João Paulo II, segundo as estimativas das autoridades italianas. A afluência de peregrinos foi de tal ordem que os corredores de acesso à Praça de São Pedro tiveram de ser abertos pela polícia quatro horas antes do previsto, por volta das 4h30 da manhã (hora portuguesa). Depois, já durante a celebração, os acessos pedonais foram encerrados por razões de segurança. Para os milhares que ficaram de fora, só restou assistir à missa através dos écrãs gigantes de televisão ou acompanhar a emissão da Rádio Vaticano. E aguardar pelo fim da celebração para, depois, poder visitar o caixão de João Paulo II - que o Vaticano prometeu deixar exposto até que todos os peregrinos pudessem ter oportunidade de ver.
A missa A celebração começou às 9h portuguesas, com a presença do Papa e de 800 sacerdotes. Bento XVI - que, por norma, só preside a canonizações - usou um cálice e uma mitra que o seu antecessor utilizou nos últimos anos de pontificado e abriu a celebração com uma saudação em latim e que foi traduzida simultaneamente em seis línguas (espanhol, francês, português, inglês, alemão e polaco) pela Rádio Vaticano.
Em frente ao altar, além da urna do beato, esteve exposta uma imagem da Divina Misericórdia (ontem foi domingo da Divina Misericórdia), vinda da igreja do Espírito Santo em Sassia, Roma. Esteve exposta durante a recitação da coroa - uma oração semelhante ao rosário, em que se pede perdão pelos pecados.
Só depois de lido um texto biográfico sobre João Paulo II é que foi descerrado o enorme retrato do novo beato na fachada da basílica. Os aplausos da multidão duraram mais do que previsto "e tiveram que ser controlados", como contou ao i o padre português José Cordeiro, reitor do Pontifício Colégio Português, que assistiu à celebração na Praça de São Pedro.
Em português, foi lida uma passagem da homilia de João Paulo II proferida na celebração da canonização de Santa Faustina (o Papa polaco foi quem mais beatificou e canonizou na história da Igreja) e em que o chefe da Igreja dizia ser "necessário que a humanidade de hoje acolha no cenáculo da história Cristo ressuscitado, que mostra as feridas da sua crucificação". Os diferentes textos, escritos em várias línguas, foram lidos por membros da postulação - que trabalharam no processo da beatificação nos últimos anos.
A beatificação Só depois chegaram as palavras-chave: "Ut Venerabilis servus Dei Ioannes Paulus II, Papa, Beati nomine in posterum appelletur". Ou como quem diz "concedemos que o venerado servo de Deus, João Paulo II, Papa, seja de agora em diante chamado beato". Bento XVI proclamava João Paulo II beato e recebia e beijava a relíquia com sangue do seu antecessor, entregue pela freira francesa que terá sido curada por sua intercessão.
Estiveram presentes na celebração delegações oficiais de pelo menos 90 países e, já depois da missa, o Papa saudou as delegações dos países lusófonos. Bento XVI deixou uma "cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, de modo especial aos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, e numerosos fiéis" vindos para a beatificação. "A todos desejo a abundância do céu por intercessão do novo beato, cujo testemunho deve continuar a ressoar nos vossos corações e nos vossos lábios".
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, representou o governo português, acompanhado pelo embaixador de Portugal junto da Santa Sé, Manuel Fernandes Pereira. Depois, Bento XVI, os cardeais e os membros das delegações oficiais cumpriram aquilo a que o Vaticano chamou de "acto de veneração" junto à urna de João Paulo II. Bento XVI deteve-se alguns minutos em silêncio ao lado dos restos mortais do seu antecessor e só depois é que os cardeais puderam aproximar-se (muitos beijaram a urna). A basílica foi depois aberta ao público.
A homilia Bento XVI começou por recordar o funeral de João Paulo II. "Já naquele dia sentíamos pairar o perfume da sua santidade", disse aos peregrinos. Depois, e se dúvidas houvesse, o chefe da Igreja admitiu que o processo de beatificação do seu antecessor aconteceu com "discreta celeridade". E o dia "chegou depressa, porque assim aprouve ao Senhor", justificou. O Papa falou em fé - a propósito da liturgia de ontem - e lembrou que João Paulo II deixou atrás de si um "testemunho de fé, de amor e de coragem apostólica, acompanhados por uma grande sensibilidade humana". Lembrou que Karol Wojtyla enfrentou "sistemas políticos e económicos", incluindo o "marxismo", para cumprir o seu desafio de viver a fé "sem medo". "Subiu à sede de Pedro trazendo consigo a sua reflexão profunda sobre a confrontação entre o marxismo e o cristianismo, centrada no homem. A sua mensagem foi esta: o homem é o caminho da Igreja e Cristo é o caminho do homem". Em polaco, falou de um "filho exemplar" da Polónia, que ajudou os cristãos de todo o mundo a não terem medo de o ser. E falou de Maria, uma "visão teológica que o beato João Paulo II descobriu na sua juventude, tendo-a depois conservado e aprofundado durante toda a vida".
Para o final guardou o testemunho pessoal. "Sempre me impressionou e edificou o exemplo da sua oração: entranhava-se no encontro com Deus. E depois, impressionou-me o seu testemunho no sofrimento: pouco a pouco, o senhor foi-o despojando de tudo mas permaneceu sempre como uma rocha".
Vaticano admite excepcionalidade É a primeira vez na história da Igreja que um Papa beatifica o seu antecessor. E o Vaticano admitiu ontem o carácter de excepcionalidade da beatificação. O responsável pela Congregação para as Causas dos Santos, Angelo Amato, admitiu que a causa de João Paulo II teve tratamento "preferencial" para não ficar em "lista de espera", dando seguimento ao desejo de Bento XVI, que decidiu iniciar o processo antes do prazo canónico - que estipula uma espera mínima de cinco anos após a morte.
Também por se tratar de uma causa especial, o Vaticano vai permitir que, cumprido um ano após a cerimónia de ontem, seja possível celebrar uma missa de agradecimento a Deus pelo beato João Paulo II em locais e dias "significativos" por decisão dos bispos de cada diocese. Hoje volta a haver missa na praça de São Pedro, às 9h30 (hora de Lisboa), em honra do novo beato João Paulo II. A celebração será presidida pelo cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano.
De manhã bem cedo, ainda a celebração não tinha começado, mais de 200 mil pessoas já estavam em vigília e oração na Praça de São Pedro - decorada com fotografias de João Paulo II e 27 bandeiras representativas dos 27 anos de pontificado do Papa polaco. O caixão de Karol Wojtyla também já estava a postos desde sexta-feira, em frente ao altar principal da basílica. E lá continuará até hoje, quando será sepultado na capela de São Sebastião - no mesmo edifício e mesmo ao lado da famosa "Pietà" de Miguel Ângelo.
Mais de um milhão de pessoas terão assistido ontem, no Vaticano, à beatificação de João Paulo II, segundo as estimativas das autoridades italianas. A afluência de peregrinos foi de tal ordem que os corredores de acesso à Praça de São Pedro tiveram de ser abertos pela polícia quatro horas antes do previsto, por volta das 4h30 da manhã (hora portuguesa). Depois, já durante a celebração, os acessos pedonais foram encerrados por razões de segurança. Para os milhares que ficaram de fora, só restou assistir à missa através dos écrãs gigantes de televisão ou acompanhar a emissão da Rádio Vaticano. E aguardar pelo fim da celebração para, depois, poder visitar o caixão de João Paulo II - que o Vaticano prometeu deixar exposto até que todos os peregrinos pudessem ter oportunidade de ver.
A missa A celebração começou às 9h portuguesas, com a presença do Papa e de 800 sacerdotes. Bento XVI - que, por norma, só preside a canonizações - usou um cálice e uma mitra que o seu antecessor utilizou nos últimos anos de pontificado e abriu a celebração com uma saudação em latim e que foi traduzida simultaneamente em seis línguas (espanhol, francês, português, inglês, alemão e polaco) pela Rádio Vaticano.
Em frente ao altar, além da urna do beato, esteve exposta uma imagem da Divina Misericórdia (ontem foi domingo da Divina Misericórdia), vinda da igreja do Espírito Santo em Sassia, Roma. Esteve exposta durante a recitação da coroa - uma oração semelhante ao rosário, em que se pede perdão pelos pecados.
Só depois de lido um texto biográfico sobre João Paulo II é que foi descerrado o enorme retrato do novo beato na fachada da basílica. Os aplausos da multidão duraram mais do que previsto "e tiveram que ser controlados", como contou ao i o padre português José Cordeiro, reitor do Pontifício Colégio Português, que assistiu à celebração na Praça de São Pedro.
Em português, foi lida uma passagem da homilia de João Paulo II proferida na celebração da canonização de Santa Faustina (o Papa polaco foi quem mais beatificou e canonizou na história da Igreja) e em que o chefe da Igreja dizia ser "necessário que a humanidade de hoje acolha no cenáculo da história Cristo ressuscitado, que mostra as feridas da sua crucificação". Os diferentes textos, escritos em várias línguas, foram lidos por membros da postulação - que trabalharam no processo da beatificação nos últimos anos.
A beatificação Só depois chegaram as palavras-chave: "Ut Venerabilis servus Dei Ioannes Paulus II, Papa, Beati nomine in posterum appelletur". Ou como quem diz "concedemos que o venerado servo de Deus, João Paulo II, Papa, seja de agora em diante chamado beato". Bento XVI proclamava João Paulo II beato e recebia e beijava a relíquia com sangue do seu antecessor, entregue pela freira francesa que terá sido curada por sua intercessão.
Estiveram presentes na celebração delegações oficiais de pelo menos 90 países e, já depois da missa, o Papa saudou as delegações dos países lusófonos. Bento XVI deixou uma "cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, de modo especial aos cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos e religiosas, e numerosos fiéis" vindos para a beatificação. "A todos desejo a abundância do céu por intercessão do novo beato, cujo testemunho deve continuar a ressoar nos vossos corações e nos vossos lábios".
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, representou o governo português, acompanhado pelo embaixador de Portugal junto da Santa Sé, Manuel Fernandes Pereira. Depois, Bento XVI, os cardeais e os membros das delegações oficiais cumpriram aquilo a que o Vaticano chamou de "acto de veneração" junto à urna de João Paulo II. Bento XVI deteve-se alguns minutos em silêncio ao lado dos restos mortais do seu antecessor e só depois é que os cardeais puderam aproximar-se (muitos beijaram a urna). A basílica foi depois aberta ao público.
A homilia Bento XVI começou por recordar o funeral de João Paulo II. "Já naquele dia sentíamos pairar o perfume da sua santidade", disse aos peregrinos. Depois, e se dúvidas houvesse, o chefe da Igreja admitiu que o processo de beatificação do seu antecessor aconteceu com "discreta celeridade". E o dia "chegou depressa, porque assim aprouve ao Senhor", justificou. O Papa falou em fé - a propósito da liturgia de ontem - e lembrou que João Paulo II deixou atrás de si um "testemunho de fé, de amor e de coragem apostólica, acompanhados por uma grande sensibilidade humana". Lembrou que Karol Wojtyla enfrentou "sistemas políticos e económicos", incluindo o "marxismo", para cumprir o seu desafio de viver a fé "sem medo". "Subiu à sede de Pedro trazendo consigo a sua reflexão profunda sobre a confrontação entre o marxismo e o cristianismo, centrada no homem. A sua mensagem foi esta: o homem é o caminho da Igreja e Cristo é o caminho do homem". Em polaco, falou de um "filho exemplar" da Polónia, que ajudou os cristãos de todo o mundo a não terem medo de o ser. E falou de Maria, uma "visão teológica que o beato João Paulo II descobriu na sua juventude, tendo-a depois conservado e aprofundado durante toda a vida".
Para o final guardou o testemunho pessoal. "Sempre me impressionou e edificou o exemplo da sua oração: entranhava-se no encontro com Deus. E depois, impressionou-me o seu testemunho no sofrimento: pouco a pouco, o senhor foi-o despojando de tudo mas permaneceu sempre como uma rocha".
Vaticano admite excepcionalidade É a primeira vez na história da Igreja que um Papa beatifica o seu antecessor. E o Vaticano admitiu ontem o carácter de excepcionalidade da beatificação. O responsável pela Congregação para as Causas dos Santos, Angelo Amato, admitiu que a causa de João Paulo II teve tratamento "preferencial" para não ficar em "lista de espera", dando seguimento ao desejo de Bento XVI, que decidiu iniciar o processo antes do prazo canónico - que estipula uma espera mínima de cinco anos após a morte.
Também por se tratar de uma causa especial, o Vaticano vai permitir que, cumprido um ano após a cerimónia de ontem, seja possível celebrar uma missa de agradecimento a Deus pelo beato João Paulo II em locais e dias "significativos" por decisão dos bispos de cada diocese. Hoje volta a haver missa na praça de São Pedro, às 9h30 (hora de Lisboa), em honra do novo beato João Paulo II. A celebração será presidida pelo cardeal Tarcisio Bertone, o secretário de Estado do Vaticano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário