A solidão, o drama que ainda hoje aflige muitos homens e mulheres. Penso
nos idosos abandonados até pelos seus entes queridos e pelos próprios filhos;
nos viúvos e nas viúvas; em tantos homens e mulheres, deixados pela sua esposa
e pelo seu marido; em muitas pessoas que se sentem realmente sozinhas, não
compreendidas nem escutadas; nos migrantes e prófugos que escapam de guerras e
perseguições; e em tantos jovens vítimas da cultura do consumismo, do «usa e
joga fora» e da cultura do descarte.
Hoje vive-se o paradoxo dum mundo globalizado onde vemos tantas
habitações de luxo e arranha-céus, mas o calor da casa e da família é cada vez
menor; muitos projectos ambiciosos, mas pouco tempo para viver aquilo que foi
realizado; muitos meios sofisticados de diversão, mas há um vazio cada vez mais
profundo no coração; tantos prazeres, mas pouco amor; tanta liberdade, mas
pouca autonomia... Aumenta cada vez mais o número das pessoas que se sentem
sozinhas, e também daquelas que se fecham no egoísmo, na melancolia, na
violência destrutiva e na escravidão do prazer e do deus-dinheiro.
Em certo sentido, hoje vivemos a mesma experiência de Adão: tanto poder
acompanhado por tanta solidão e vulnerabilidade; e ícone disso mesmo é a
família. Verifica-se cada vez menos seriedade em levar por diante uma relação
sólida e fecunda de amor: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na boa
e na má sorte. Cada vez mais o amor duradouro, fiel, consciencioso, estável,
fecundo é objecto de zombaria e olhado como se fosse uma antiguidade. Parece
que as sociedades mais avançadas sejam precisamente aquelas que têm a taxa mais
baixa de natalidade e a taxa maior de abortos, de divórcios, de suicídios e de
poluição ambiental e social. (Texto: Frei Paulo Cardoso)
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